sábado, 15 de novembro de 2008

Rituais

Essa semana fui num ritual Maia para fazer uma matéria. Confesso que no início fiquei bem desconfiada. Vai saber né. Com tanto charlatão e maluco por aí, quando chega alguém com esse papo de ritual a primeira coisa que a gente faz é ficar bem desconfiado. Mas adorei a história da mulher responsável por tudo e o ritual me fez voltar no tempo dois anos atrás. Essa cerimônia era para a Lua, já que era o primeiro dia de lua cheia e foi realizado à noite. A mulher se chama Gabriela, é mexicana, freira dominicana, super envolvida com a cultura Maia que conheceu no sudeste do México, em Chiapas, participa de rituais xamânicos e além de tudo está fazendo um curso de terapia de vidas passadas. Pensa que loucura que não somos na América Latina. Tudo junto e misturado. Se engana quem pensa que essa maluquice deliciosa é só no Brasil. É até um pouco estranho, sabe. No Brasil onde mais se fala em miscigenação, é onde temos mais preconceito e menos orgulho do sangue indígena e negro que carregamos nas veias.
Mas como ia dizendo, o momento do ritual foi uma volta no tempo. Me vi em Cochabamba, na Bolívia, numa comunidade com gente de todo o mundo, xamãs, alternativos, indígenas, curiosos. Mesmo estando num ritual à noite e no Brasil, realizado por uma mexicana, pude sentir de novo as sensações tão intensas de comunhão com a natureza e com tudo que nos envolve que experimentei sob o escaldante sol de meio-dia da Bolívia. Parecia sentir o sol sobre minha cabeça e cada grão de areia sob meus pés. A delícia de não estar separada do universo, mas de estar totalmente integrada a tudo que Deus criou. Tudo parece tão cuidadosamente integrado, ligado.
Isso me deu uma saudade enorme, uma sensação de nostalgia e ao mesmo tempo uma grande alegria de fazer parte do mundo. Não sei o que acontece, mas me sinto tão atraída pela cultura indígena. A cada dia que passa tenho mais e mais vontade de conhecer a fundo essa parte da nossa América Latina, linda, misteriosa, e tão mais sábia que os conquistadores que chegaram por aqui. Dá vontade de gritar, dançar na chuva e comemorar sem motivo aparente, apenas por estar viva.
No mesmo dia falei com minha hermanita boliviana. Engraçado. A cada dia tenho mais certeza de que coincidências são existem. Tudo parece ser obra de uma Força Maior. Nós mesmos fazemos nosso destino, mas essa Força parece nos indicar rumos e usar sinais para nos mostrar que direção é melhor seguir e qual é nosso caminho. Eu sonhando com a Bolívia, chego no msn e depois de muitos e muitos dias sem ter notícias, minha hermanita está on line, falando comigo. Foi rápido, mas muito bonito e me fez sonhar ainda mais com minha super viagem à Bolívia para fazer meu trabalho final de Jornalismo Literário. Meu sonho é mostrar para toda a gente ignorante que me olha com riso sarcástico e diz que não há nada de interessante na Bolívia e também para aqueles que na inocência me perguntam o que tanto me encanta nesse lugar, toda a magia que transformou meu coração e ainda transforma um pouco mais a cada dia. Conhecer, compreender - essas culturas e ao mesmo tempo a mim mesma. Ai que vontade de armar minhas trouxinhas agora mesmo e cair no mundo...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Apelo ao assessor

Muito assessor esquece que é jornalista e não tem a menor solidariedade para com o pobre do repórter que precisa entregar uma matéria. Mas o pior é que o assessor impiedoso que faz trabalho mal-feito, também demonstra pouca inteligência. Por alguma dezena de vezes tive que ficar ao telefone imploraaando a assessores para mandar material que beneficiaria a eles próprios. Assessores: o repórter é seu amiguinho e parceiro e não seu inimigo cruel e implacável. Se você teve tempo para mandar o release de um evento, por favor, seja esperto e ajude na divulgação das informações corretas desse evento.
O repórter tem pouco tempo, muita coisa para fazer, gastrite, um editor exigindo a matéria com urgência. Poupe esse ser humano de mais estresse e colabore. Sério, dá vontade de chorar quando a gente pensa que tudo está bem e todas as informações ok, e seu editor te liga para comunicar que elas não estão lá. A pessoa te garantiu que elas estariam lá, a gente infelizmente não pode ficar até o fechamento do caderno para não levar advertência por passar do horário, e aí quando você está em casa desesperado fazendo outros trabalhos, descobre que ahá! As coisas que deveriam estar lá, bonitinhas, não estão.
A gente é repórter, não adivinho. A gente não vai olhar para uma foto e identificá-la, se nem o assessor soube dizer quem são os indivíduos. A gente precisa de boas fotos, que não fiquem quebradinhas no jornal. A gente precisa de programações exatas e organizadas, de informações corretas. Por favor, assessor, colabore. Seja parceiro do repórter, pelo bem do seu evento.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Medo

Eu sinto a violência cada vez mais perto. Quando era criança, pensava que era algo que estivesse só nas guerras civis na África ou nas brigas do Oriente Médio. Em garotos que metralham colegas em escolas estadunidenses. Depois fui vendo pela televisão um monte de desgraça no Eixo Rio-São Paulo, até não agüentar mais assistir a tanta morte nas favelas, assassinatos e todas essas coisas. Ainda achava que estava longe de mim. Mas há alguns dias uma batida de trânsito foi motivo para o pai de uma amiga apanhar até ter afundamento de crânio. Aqui, em Goiânia.
O choque tem me deixado apavorada. Em estado de pânico disfarçado. A gente está ali, sorrindo com os amigos e pensando no perigo da volta para casa. É pavoroso pensar que você está na rua e pode a qualquer momento tornar-se apenas mais um corpo estendido no chão. No dia do meu aniversário, enquanto comemorava numa festa infantil, no quarteirão de baixo mataram um cara. Dizem que foi policial. Dizem também que foi traficante.
Dizem sempre muitas coisas e eu fico cada dia mais sem saber se peço ajuda a policiais ou se corro de medo deles. Tão triste isso... Fiquei uns três meses observando travestis, para um trabalho. Perto, dizem que há tráfico de drogas. Viaturas policiais andam por ali a noite toda. Durante três meses nenhum traficante ameaçou a mim ou ao Carlos, que mora perto e me fez companhia nesse período. As travestis também nunca ofereceram nenhum tipo de ameaça. Chegamos a abordá-las. Só senti medo quando num desses dias de observação uma viatura parou atrás da gente, apontou uma arma, mandou descer do carro com as mãos pra cima e continuou apontando a arma. Ainda bem que eram policiais honestos, que tinham que verificar o que aqueles dois cabeçudos estavam fazendo parados de madrugada justo naquele lugar. Graças a Deus. Mas com tanta coisa acontecendo, com tudo que ouve-se diariamente, eu vi aquela arma apontada pra mim e só pensava naquilo disparando. Congelei de medo.
Quando fui à Bolívia me falaram tanta coisa que me senti indo para o Afeganistão no auge da invasão pelos Estados Unidos. Mas quando cheguei lá vivi os momentos mais tranqüilos do mundo. Me senti em casa, me senti tão em paz. Lá onde falavam que era perigoso não senti metade do pavor que tenho sentido aqui. E eu que achava até pouco tempo atrás que vivia num lugar tranqüilo, me gabava de Goiânia ter paz. É triste. Triste pensar que seu namorado pode ser um cara que vai te matar no futuro. Que um motoqueiro pode te agredir simplesmente porque ficou com vontade. Que nenhum lugar é seguro. Triste pensar que a gente sai e realmente não sabe se e como vai chegar em casa.

sábado, 1 de novembro de 2008

Eu sou, nós somos

Quem sou eu? Descobri que sou várias. Ai, nada daquele clichê de mulher multifacetada. Sou uma só e ao mesmo tempo tenho dentro de mim várias outras. Sou aquela que grita e aquela que prefere falar baixinho ao pé do ouvido. Aquela que se esconde e ao mesmo tempo deseja correr na chuva e gritar nua de braços erguidos. Aquela que chora...chora tanto... mas é durona e algumas vezes até má. Sou aquela que ama com intensidade, que se decepciona com facilidade. Que luta pelo quer, mas que às vezes sente um cansaço que amarra e impede de seguir em frente.
Sou paradoxo, metáfora, metonímia e mais todas as figuras de linguagem que algum estudioso inventou para tentar explicar as confusões e sentimentos das pessoas quando se expressam. Sou poesia de amor. Sou o x de uma equação inexplicável.
São tantas definições, tantas. A gente quer tanto se entender, revelar-se ao menos a si mesmo. Que bobagem...as explicações são coisas tão bobas. A gente vive. Somos vários. Somos sem explicação.
Somos jornalistas, advogados. Somos bobos, idiotas. Somos gênios no nosso dia-a-dia. Somos péssimos e somos ótimos.
Não sou a melhor jornalista que conheço. Nem a pior. Ontem me senti, por alguns instantes, a pior. E chorei. Chorei porque não me imagino fazendo outra coisa na vida que não seja escrever. Não me imagino em outra profissão que não seja a de jornalista. Então, se sou péssima, o que fazer? Mas cheguei à conclusão de que não é exatamente isso... Fazemos coisas lindas e fazemos coisas ruins, mas o importante é ter ao menos a consciência tranquila. Ver os erros e tentar corrigir, mas não deixar absolutamente ninguém nesse mundo fazer com que pensemos que somos incapazes. Até porque isso na maioria das vezes é coisa da cabeça da gente. Às vezes as pessoas não querem dizer isso, a gente é que entende assim. As críticas fazem com que a gente cresça, os elogios nem sempre.
Sou um ser narrativo. Essa é uma das minhas mais importantes descobertas sobre mim mesma. Não interessa onde trabalho, não interessa o que eu faça nessa vida. Se trabalho com vendas, com festas, jogando bolinha pra cima no sinal. Eu preciso contar, preciso narrar. Eu vejo histórias por todos os cantos por onde ando, em todas as pessoas com as quais converso. Preciso narrar. Isso precisa estar em algum lugar. Ainda que eu não seja a melhor escritora, nem a melhor jornalista, eu sou o que sou. Tenho sede de aprender e vou melhorar a cada dia. Que me perdoe o leitor pelos meus erros e textos irregulares. Mas preciso escrever. Disso eu nunca vou desistir na vida.